domingo, 30 de janeiro de 2022

O final do conto




Continuando...

Depois de quatro dias de chegada finalmente tudo ficou em ordem. Naquela tarde Inês desceu até a praia e ficou sentada na areia um bom tempo olhando para o mar. O mar lhe transmitia paz e renovava seu espírito. Voltou pra casa pensando: Não é porque estou aposentada e com uma doença incômoda que vou me entregar! Preciso agir e já! Pegou papel e caneta e escreveu:

1- O que eu posso fazer agora?
2- O que vai precisar de um esforço maior e de mais tempo pra começar?
3- O que não depende só de mim, mas eu posso fazer minha parte?


Respondeu a cada uma desta questões com toda sinceridade. Isso feito, começou a separar roupas, objetos e até móveis que não tinham mais tanta serventia. Colocou tudo no último quarto da casa para doação. No dia seguinte foi até a cidade vizinha, cujo comércio era maior que o de Paraíso. Comprou telas, tintas, material de jardinagem, sementes, vasos... No mesmo dia começou a plantar um jardim na frente de casa e uma horta no quintal. Inês tinha um curso de pintura que nunca tinha posto em prática, era agora ou nunca, começou a pintar flores, frutas, paisagens.


No domingo seguinte na igreja, tomou conhecimento de um grupo de jovens e senhoras que recebiam doações e compravam cestas básicas para os mais necessitados. Nem pensou duas vezes e entrou para o grupo. Seu entusiasmo era tão grande que contagiou a família. A irmã, Inamar, que era costureira, passou a costurar para o grupo da igreja, reformava roupas ou fazia peças simples mas de boa qualidade. Abriu um ateliê e era tão caprichosa que em pouco tempo as senhoras mais chiques da cidade já frequentavam seu ateliê. O marido adorou a renda extra. Já Inês ajudada por Liliane, levou seus quadros pra vender nas feiras de artesanato da cidade grande. No começo foi difícil, mas aos poucos ela começou a perceber quais pinturas eram as preferidas das pessoas e então passou a vender cada vez mais. O grupo da igreja cresceu também, virou uma ONG e tinha a participação de vários profissionais voluntários. O trabalho conjunto já estava mudando a cara de Paraíso e a cidade estava cada vez mais parecida com um Paraíso de verdade.


Uma noite, cansada porém feliz, Inês chegou em casa e pensou com seus botões: só falta uma coisa agora! Foi até o guarda-roupa e lá pegou uma caixa de madeira pintada a mão. Do fundo da caixa, retirou uma fotografia amarelada que mostrava um rapaz louro de olhos esverdeados e muito sorridente, que vestia uma roupa de marinheiro. Atrás da fotografia uma dedicatória:

Para Inês

Seu olhar me desconcerta, penetrante, inquietante

O prazer em mim desperta, inquietante, deslumbrante

Ter você sob as cobertas, deslumbrante, fascinante...

O fascínio do seu corpo, me perco em suas curvas

Você é minha perdição...

Seu pra sempre...

Mateus

Aquela lembrança fazia o coração de Inês pular no peito. De onde Mateus copiara aquelas palavras ela não sabia, mas o objetivo delas acertara em cheio seu coração. Mateus era o único namorado que ela nunca esquecera. Não custava nada tentar. Tinha o endereço da empresa de pesca onde Mateus trabalhava. Escreveu uma carta contando sobre sua vida e no final a pergunta: ainda há chance pra nós dois? Passaram-se três meses e nenhuma resposta. Inês não esmoreceu, escreveu outra carta e depois mais outra, até que estava mandando uma carta por semana. Uma tarde finalmente chegou a resposta. Mateus explicava na carta que não trabalhava mais naquela empresa e que por acaso um ex-colega de lá lhe falara das cartas. Ele dizia ter lido cada uma com atenção e muita alegria: - Bom saber notícias suas, pequena - dizia - vou tirar umas férias acumuladas e vou até aí te visitar! Inês pulou da cadeira: - Não posso acreditar, ele vem pra cá!


De fato, quase dois meses depois Mateus chega a Paraíso. Estava diferente do rapaz da foto, tanta coisa acontecera desde então, mas lá no fundo ainda era o mesmo Mateus. Olhou Inês de cima a baixo:

- E você pequena, não está nada mal, continua cheia de curvas em?

E Inês piscando um olho: - E vc continua o mesmo safado de sempre em?

Riram muito e conversaram mais ainda. Mateus se casara, mas agora estava divorciado, trouxera até o documento pra provar.

- Tenho dois filhos - disse ele - e depois do fim de meu casamento jurei nunca mais me amarrar em mulher alguma. Mas com você é diferente, você vale o risco de tentar de novo.

Inês quase chorando de felicidade disse: - A gente se entende muito bem Mateus, em todos os aspectos da vida - piscou o olho de novo e Mateus sorriu de orelha a orelha - temos sorte, pois muita gente procura isso a vida inteira e não acha. Não vamos desperdiçar a nossa sorte!

A conversa terminou com um longo beijo.

FIM


E agora me digam o que acharam do final do conto. Só quero ressaltar uma coisa: não necessariamente pra ser feliz você precisa de um homem do lado... mas pra Inês isso foi importante, no fim das contas cada um faz suas escolhas na vida. E sim, se você puder ajude os outros, sendo voluntário ou fazendo doações. Uma boa semana!






domingo, 23 de janeiro de 2022

Um conto em dois capítulos.

Escrito há 16 anos!

Capítulo 1

Era um fim de tarde numa cidade grande. O sol despencava no horizonte. Nuvens de chuva subiam no céu cada vez mais próximas. A noite chegou mais depressa. Inês atravessou a rua, rumo a um ponto de ônibus, aquela hora já lotado de pessoas apressadas. Inês imaginou se conseguiria um lugar no ônibus para ir sentada para casa. Suas pernas doíam, as varizes reclamavam. Para sua sorte o ônibus que sempre pegava passou quase vazio. Ela suspirou aliviada, sentando-se perto de uma janela no instante em que a chuva começou a cair. Fechou a janela e deixou-se cair numa espécie de letargia.


Inês só tinha 40 anos, mas um problema crônico de saúde fizera sua aposentadoria chegar mais cedo. Agora ela estava se despedindo da cidade grande. Voltaria para sua cidade natal, pequena mais aconchegante, situada bem pertinho do mar. O nome da cidade era de fazer sonhar: Paraíso. Lá ela tinha uma pequena casa quase a beira-mar, herança de família. Sempre que podia passava fins de semana e feriados prolongados lá. Sua irmã mais velha Inamar, morava vizinho e mantinha a casa em ordem. O pai comprara aquele terreno muitos anos atrás e construíra com as próprias mãos e alguma ajuda, as duas casas, uma para cada filha. Inamar era casada, tinha quatro filhos todos já encaminhados na vida: Levi e Lucio já casados e Laíse e Liliane as mais novas. Inês namorara muito mas se decepcionara com os homens na mesma proporção . E como prezava muito sua independência, decidira não se casar. Dos sobrinhos, Inês gostava mais de Liliane, a caçula. Liliane tinha quase a mesma fisionomia da tia, além dos meus gostos e atitudes.


Inês entra em seu pequeno apartamento cheio de caixas de papelão devido a mudança próxima. Quase todos seus pertences estavam empacotados. Vai até a varanda, a chuva tinha passado e soprava um vento frio. Lembrou que era a última noite que passava ali, amanhã se mudava.

 - Lá se vai vinte anos... - pensou ela - quantas coisas vivera ali, alegrias, tristezas... 

O telefone toca, era Liliane:

- Tia, amanhã estarei aí logo cedo. Levi e Lucio também vão. Acertou tudo com o pessoal da mudança?

- Sim, tudo certo.

- Falou com mami e papi?

- Sim, sua mãe já abriu a casa hoje e mandou Lurdinha dar uma geral lá.

- Então não se preocupe, em pouco tempo estará instalada na casa nova! - disse Liliane.

Quando Liliane desligou, Inês fez uma promessa a si mesma: 
- A partir de amanhã minha vida será realmente nova! Está na hora de fazer o que nestes anos todos não tive coragem nem tempo de fazer. Amanhã eu começo a viver de verdade!

Continua...


Espero que gostem do conto e voltem pra ver o final. Alguém já passou por esta situação da personagem? Ter oportunidade de mudar radicalmente de vida? Mudar pra você é bom ou ruim? 

Uma boa semana!
Beijos nas bochechas!


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