Continuando...
Depois de quatro dias de chegada finalmente tudo ficou em ordem. Naquela tarde Inês desceu até a praia e ficou sentada na areia um bom tempo olhando para o mar. O mar lhe transmitia paz e renovava seu espírito. Voltou pra casa pensando: Não é porque estou aposentada e com uma doença incômoda que vou me entregar! Preciso agir e já! Pegou papel e caneta e escreveu:
1- O que eu posso fazer agora?
2- O que vai precisar de um esforço maior e de mais tempo pra começar?
3- O que não depende só de mim, mas eu posso fazer minha parte?
Respondeu a cada uma desta questões com toda sinceridade. Isso feito, começou a separar roupas, objetos e até móveis que não tinham mais tanta serventia. Colocou tudo no último quarto da casa para doação. No dia seguinte foi até a cidade vizinha, cujo comércio era maior que o de Paraíso. Comprou telas, tintas, material de jardinagem, sementes, vasos... No mesmo dia começou a plantar um jardim na frente de casa e uma horta no quintal. Inês tinha um curso de pintura que nunca tinha posto em prática, era agora ou nunca, começou a pintar flores, frutas, paisagens.
No domingo seguinte na igreja, tomou conhecimento de um grupo de jovens e senhoras que recebiam doações e compravam cestas básicas para os mais necessitados. Nem pensou duas vezes e entrou para o grupo. Seu entusiasmo era tão grande que contagiou a família. A irmã, Inamar, que era costureira, passou a costurar para o grupo da igreja, reformava roupas ou fazia peças simples mas de boa qualidade. Abriu um ateliê e era tão caprichosa que em pouco tempo as senhoras mais chiques da cidade já frequentavam seu ateliê. O marido adorou a renda extra. Já Inês ajudada por Liliane, levou seus quadros pra vender nas feiras de artesanato da cidade grande. No começo foi difícil, mas aos poucos ela começou a perceber quais pinturas eram as preferidas das pessoas e então passou a vender cada vez mais. O grupo da igreja cresceu também, virou uma ONG e tinha a participação de vários profissionais voluntários. O trabalho conjunto já estava mudando a cara de Paraíso e a cidade estava cada vez mais parecida com um Paraíso de verdade.
Uma noite, cansada porém feliz, Inês chegou em casa e pensou com seus botões: só falta uma coisa agora! Foi até o guarda-roupa e lá pegou uma caixa de madeira pintada a mão. Do fundo da caixa, retirou uma fotografia amarelada que mostrava um rapaz louro de olhos esverdeados e muito sorridente, que vestia uma roupa de marinheiro. Atrás da fotografia uma dedicatória:
Para Inês
Seu olhar me desconcerta, penetrante, inquietante
O prazer em mim desperta, inquietante, deslumbrante
Ter você sob as cobertas, deslumbrante, fascinante...
O fascínio do seu corpo, me perco em suas curvas
Você é minha perdição...
Seu pra sempre...
Mateus
Aquela lembrança fazia o coração de Inês pular no peito. De onde Mateus copiara aquelas palavras ela não sabia, mas o objetivo delas acertara em cheio seu coração. Mateus era o único namorado que ela nunca esquecera. Não custava nada tentar. Tinha o endereço da empresa de pesca onde Mateus trabalhava. Escreveu uma carta contando sobre sua vida e no final a pergunta: ainda há chance pra nós dois? Passaram-se três meses e nenhuma resposta. Inês não esmoreceu, escreveu outra carta e depois mais outra, até que estava mandando uma carta por semana. Uma tarde finalmente chegou a resposta. Mateus explicava na carta que não trabalhava mais naquela empresa e que por acaso um ex-colega de lá lhe falara das cartas. Ele dizia ter lido cada uma com atenção e muita alegria: - Bom saber notícias suas, pequena - dizia - vou tirar umas férias acumuladas e vou até aí te visitar! Inês pulou da cadeira: - Não posso acreditar, ele vem pra cá!
De fato, quase dois meses depois Mateus chega a Paraíso. Estava diferente do rapaz da foto, tanta coisa acontecera desde então, mas lá no fundo ainda era o mesmo Mateus. Olhou Inês de cima a baixo:
- E você pequena, não está nada mal, continua cheia de curvas em?
E Inês piscando um olho: - E vc continua o mesmo safado de sempre em?
Riram muito e conversaram mais ainda. Mateus se casara, mas agora estava divorciado, trouxera até o documento pra provar.
- Tenho dois filhos - disse ele - e depois do fim de meu casamento jurei nunca mais me amarrar em mulher alguma. Mas com você é diferente, você vale o risco de tentar de novo.
Inês quase chorando de felicidade disse: - A gente se entende muito bem Mateus, em todos os aspectos da vida - piscou o olho de novo e Mateus sorriu de orelha a orelha - temos sorte, pois muita gente procura isso a vida inteira e não acha. Não vamos desperdiçar a nossa sorte!
A conversa terminou com um longo beijo.
FIM
E agora me digam o que acharam do final do conto. Só quero ressaltar uma coisa: não necessariamente pra ser feliz você precisa de um homem do lado... mas pra Inês isso foi importante, no fim das contas cada um faz suas escolhas na vida. E sim, se você puder ajude os outros, sendo voluntário ou fazendo doações. Uma boa semana!