ALINE E O PRIMO RAUL
Era um final de tarde de um dia extremamente quente. Ventos fortes levantavam nuvens de poeira da terra seca. Aline estava sentada numa cadeira de balanço na varanda da casa da fazenda. Tinha acabado os afazeres do dia e se sentia muita cansada. As últimas semanas tinham sido duras pra ela. Sua avó Filó adoecera gravemente e ela tivera que se dividir entre estudar, cuidar da avó e dos afazeres da casa. Ainda bem que as outras mulheres da fazenda, solidárias, se revezaram pra ajudá-la. Seu pai oferecera seus préstimos, levando Dona Filó aos melhores médicos da capital. E graças ao bom Deus, Dona Filó reagira bem ao tratamento e estava praticamente boa agora.
Mas naquele momento, Aline relembrava de acontecimentos anteriores a doença da avó. Sua memória a levava ao passado, ao dia em que os tios, tias e primos chegaram da Espanha. Tinha se dado bem com eles. Sabia um pouco de espanhol e alguns dos familiares falavam português. A festa em comemoração ao fim da maldição da casa tinha sido inesquecível. Mas de tudo que acontecera naqueles dias, o que ainda fazia seu coração bater mais forte, fora o momento em que conhecera o primo Raul de 19 anos, que chegara depois dos outros. Quando pusera os alhos nele, pela primeira vez na vida, fora tomada por um estado de encantamento. Saíra completamente "do ar" e não conseguira dizer uma palavra sequer. O rapaz e todos que estavam à sua volta,riram da confusão dela, e uma de suas tias traduzira o que estava acontecendo:
- Aline apaixonou-se! - dissera.
Ela ficara ainda mais sem jeito e praticamente saíra correndo da sala. Hoje ao pensar em tudo aquilo, sentia o rosto enrubescer.Sempre fora difícil pra ela demonstrar sentimentos e ao contrário de suas amigas de escola, não tinha facilidade pra arranjar namorado. No dia seguinte soube, pra sua decepção, que Raul tinha uma namorada que viera junto com ele da Espanha.Aline sentiu uma mistura de ciúmes, tristeza e raiva. A garota era muito bonita, simpática, um amor de pessoa.
- Raul só tem olhos pra ela... - disse seu pai.
Na noite deste dia, Aline chorou até perder o fôlego. Ficara surpreendida com sua própria reação, que agora achava exagerada. Pela manhã, antes dos outros acordarem, pegara suas coisas e voltara pra casa da fazenda. Sentia que precisava se afastar. A tal garota quando a vira, nem sequer lhe dera um "oi" e olhara pra ela com ar de superioridade. Aline pensara: "A simpatia dela não serve pra mim, pelo jeito."
Dois dias depois, todos vieram visitá-la na fazenda, menos Raul e a namorada. Ninguém tocou no assunto e Aline suspirou aliviada.Houve um almoço com comidas típicas da Espanha, muita cantoria e histórias engraçadas. Da maldição da casa, que todos tinham experimentado, ninguém queria mais se lembrar. Chegou o dia da família voltar pra Espanha. O pai, Seu Fernando, avisou a Aline que iria junto, mas voltaria logo. Na noite anterior a viagem deles, Aline recebeu uma visita. Estava no quarto arrumando algumas roupas no armário, quando Dona Filó apareceu na porta:
- Aline, tem visita pra você na sala.
- Ué, quem é a essa hora?
- Vai lá ver...
Alguma coisa no tom de voz de Dona Filó fez seu coração acelerar, já sabia quem era a visita. Caminhou até a sala quase sem sentir o chão. Quando chegou lá encarou Raul com uma expressão enigmática no rosto.
(Ane em 13/01/2006)
CONTINUA
Espero que tenham gostado da primeira parte. A semana que passou choveu forte por aqui. Tive uma boa folga do trabalho também .Estas coisas são tudo de bom! Beijos nas bochechas e até a próxima semana.