Em seguida pinte alguma coisa graciosa,
alguma coisa simples, alguma coisa bonita,
alguma coisa simples, alguma coisa bonita,
alguma coisa útil ... ao pássaro.
Depois, coloque a tela contra uma árvore
no jardim, no bosque ou na floresta
e esconda-se atrás da árvore sem dizer nada,
sem se mexer.
sem se mexer.
As vezes o pássaro chega logo,
mas pode levar muitos, muitos anos
até se resolver. Não desanime, espere.
Espere, se preciso, durante anos.
A velocidade ou a lentidão da chegada do pássaro,
não tem a menor relação com a qualidade da pintura.
Quando ele chegar (se chegar)
mantenha o mais profundo silêncio,
Quando ele chegar (se chegar)
mantenha o mais profundo silêncio,
espere que ele entre na gaiola.
Depois que entrar, feche lentamente a porta com o pincel.
Depois que entrar, feche lentamente a porta com o pincel.
Aí então apague uma por uma todas as varetas.
(Cuidado para não esbarrar em nenhuma pena do pássaro.)
Finalmente pinte a árvore, reservando o mais belo
de seus ramos ao pássaro.
de seus ramos ao pássaro.
Pinte também a verde folhagem e a doçura do vento,
a poeira do sol, o rumorejo dos bichinhos
da relva no calor da estação.
da relva no calor da estação.
Depois aguarde que o pássaro se decida a cantar.
Se ele não cantar, mau sinal: sinal de que
o quadro não presta.
o quadro não presta.
Mas bom sinal, se ele canta: sinal de que
você pode assinar o quadro.
você pode assinar o quadro.
Então retire suavemente uma pena do pássaro
e escreva o seu nome a um canto do quadro.
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De Jacques Prévert (1900-1977)
Tradução-homenagem: Carlos Drummond de Andrade