domingo, 29 de julho de 2012

As Olimpíadas começaram!



Daiane dos Santos
(Rubem Alves)

As Olimpíadas são um evento assombroso. Começa com aquela festa linda, comovente, festa de fraternidade e paz. Norte americanos e iraquianos desfilaram no mesmo desfile sem que o Bush tentasse matar os atletas do Iraque, como terroristas disfarçados. Ele estava jogando golfe. O grande símbolo: uma oliveira cheia de folhas! Dizem os poemas sagrados que a pomba que Noé soltou ao final do dilúvio voltou com um ramo de oliveira no bico. Que bom seria se aquela oliveira anunciasse o fim do dilúvio de loucuras bélicas que está destruindo o mundo! Algumas dessas festas ficam inesquecíveis. Lembro-me do ursinho que marcou as olimpíadas de Moscou. No encerramento o ursinho chorou: lágrimas escorriam pelo seu rosto. Sei muito bem que urso não tem rosto, urso tem é focinho, mas seria feio dizer “lágrimas escorriam pelo seu focinho”. Do jeito como as coisas vão, em breve se dirá que os bichos têm rosto e os homens têm focinho.
Aí chega o primeiro dia. Vai-se a fraternidade. Agora é briga. Briga pelo pódio. O pódio é motivo de briga. Todo pódio é motivo de briga. Nas Olimpíadas não há lugar para fraternidade porque fraternidade significa todo mundo junto brincando de roda e nas Olimpíadas não há cantigas de roda. No pódio só cabem três. Cada atleta quer mesmo é que o outro se dane. Ah! A suprema felicidade do velocista dos 100 metros quando sabe que o recordista baixou hospital acometido de uma súbita cólica renal, na véspera das finais. E as ginastas rezam, enquanto as adversárias executam os seus números: “Tomara que ela escorregue...”
Havia na UNICAMP um professor visitante na Faculdade de Educação Física, Manoel Sérgio, que era muito contra ao atletismo. Ele perguntava: “Você conhece algum atleta longevo?” E concluia: “Quem vive muito são essas velhinhas que se encontram ao fim da tarde para tomar chá com bolo...” Já viu cavalo treinando os 1.500 metros? Só quando dominados por homens. As Olimpíadas não são uma manifestação de saúde. São uma exaltação do desejo de ser o maior. Prova disso são os doppings. Os atletas sabem que a coisa faz mal à saúde. Pode matar. Mas uma morte prematura bem vale um lugar no pódio! Aquela máquina de correr, uma negra norte-americana, me esqueci de nome dela, só músculos, morreu subitamente de um ataque cardíaco. Assim não pensem que os atletas têm boa saúde, que praticam hábitos saudáveis de vida. Lembram-se da corredora suíça, ao final da maratona? Era a imagem de um corpo torturado pela dor. Penso nas nadadoras. Elas me assustam. Não se parecem mulheres. Aqueles ombros enormes! Acho que meus braços não conseguiriam abraçar uma delas. E nem eu quereria. E acho que nem ela quereria. Abraço é perda de tempo. É preciso aproveitar o tempo lutando contra a água. Inimigas da água. Isso mesmo. Porque uma pessoa que passa dez anos de sua vida treinando seis horas por dia não por prazer mas para sair da piscina um centésimo de segundo na frente da marca  olímpica só pode ter ódio da água. A água é o inimigo a ser vencido. Compare com as crianças. Elas amam a água. Elas não querem sair da água. A água é sua companheira de brincadeiras. As nadadoras, ao contrário, não brincam com a água. Lutam contra ela. Tocada a borda da piscina, para onde olham as nadadoras? Elas olham para o placar onde aparece o tempo. É isso. É o tempo que elas amam. Quanto mais depressa melhor! O perigoso é que elas apliquem essa doideira em outras coisas da vida onde o que vale é “quanto mais devagar melhor”.
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Há um famosíssimo, badaladíssimo conferencista que anuncia suas conferências com a afirmação: “Seu lugar é o pódio”. Esse é o sonho de todo atleta que vai para as Olimpíadas. Mas logo ele descobre que a verdade não é aquela anunciada pelo conferencista mas uma outra, muito mais sóbria, enunciada por Jesus: “Muitos são os chamados mas poucos os escolhidos.” No pódio só há lugar para três. Os outros atletas não aparecem. Na vida também é assim. Se o lugar de todo mundo fosse o pódio, se todos seguissem os conselhos do dito conferencista, todos ganhariam a medalha de ouro. Já pensaram nisso? Todos com medalhas de ouro no peito? Tantos pódios quantos são os atletas? Que coisa maravilhosa nas Olimpíadas! Que coisa maravilhosa na vida! Todos os problemas do país estariam resolvidos. Os pobres andariam de BMW e os famintos comeriam camarão na moranga. Governo burro esse que temos! Por que não nomeia o dito conferencista como Ministro da Educação para que todos subam no pódio? E não é só ele que anuncia o evangelho do pódio. Tem uma seita, entre as milhares que prometem milagres que diz: “Você está destinado ao sucesso”. Com Jesus o primeiro lugar nas Olimpíadas está garantido! E na vida! Teologia maravilhosa essa: Jesus Cristo morreu na cruz para que nós tivéssemos sucesso! Para que ganhássemos a medalha de ouro! Corolário: se você não está no pódio, se você não tem sucesso é porque você está longe de Deus. Pecador miserável! Arrepende-te dos teus pecados, entrega o teu coração a Jesus, não para ir para os céus, mas para ir para o pódio...
Mas há um jeito de todo mundo ter medalha e já o escrevi aqui. A idéia foi de Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas, que todo mundo leu e não prestou atenção. Porque o verdadeiro ato da leitura não está na leitura mas na ruminação. É preciso ler bovinamente, ruminantemente. Tratava-se de uma corrida. Alice queria saber as regras. O Pássaro Dodo explicou: “Primeiro marca-se o caminho da corrida, num tipo de círculo, ( a forma exata não tem importância), e então os participantes são todos colocados em lugares diferentes, ao longo do caminho, aqui e ali. Não tem nada de “um, dois, três, já”. Eles começam a correr quando lhes apetece, ou abandonam quando querem, o que torna difícil dizer quando a corrida termina.” Assim a corrida começou. Depois que  haviam corrido por mais ou menos meia hora  o Pássaro Dodo gritou: “A corrida terminou!” Todos se reuniram ao redor de Dodo e perguntaram: “Quem ganhou?” “Todos ganharam”, disse Dodo. E todos devem ganhar prêmios.”

(Correio Popular, Caderno C, 21/08/2004.)
Oi gente!Achei esta crônica bem apropriada pra este tempos de Olimpíadas de Londres.Viram a abertura na sexta?Não costumo perder,acho lindas as cerimônias de abertura de olimpíadas,um espetáculo.O que vcs acharam do texto acima?Acho que o autor exagerou um pouco nas comparações,será?Mas que atleta sofre pra ir pra o pódio ninguém duvide,é um sofrimento de 4 anos pra chegar lá.Mesmo com tudo isso acho o evento bonito de se ver.Adoro a ginástica e o nado sincronizado,não quero perder,vou conferir,com certeza!Vamos torcer pelos nosso atletas,né?

No mais tudo tranquilo por aqui.
Um beijo em cada bochecha!

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